segunda-feira, 11 de julho de 2011

ê Fabrício César !

Poema recíproco

Quando a reciprocidade me olhou nos olhos
Eu fiquei sem o que fazer, mordi os lábios.
Olhei-a com o coração, e ele quis saltar.
De meu peito veio o sinal de assalto,
De minhas pernas o sinal de tremor,
Das tectônicas da alma acima do asfalto,
Das placas de sonhos, veio o do Amor.


Quando ela vem e invade as divisas,
as fronteiras do que pressinto desfalecem,
E mesmo que a razão sempre venha e avise
que ve-la é normal. Os pés se esquecem
que havia chão, antes, ou depois teto.
Eu me sinto um perdido, louco, e raro.
Eu ali, com os olhos e o coração inquietos,
a boca, a alma e os sonhos mais caros.


Quando a reciprocidade nos olhos me olha...
A noite o sol espera, já que não há demora
nem tempo nas pêndulas do infinito ou breve
que desfaça da entrega, as mais inteiras horas.
Ou das pêndulas não faça o mover lento e leve.


O Gosto do Quando.Pedro E João Editores. São Carlos, 2011.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

ê Vicente de Carvalho !

Velho Tema 

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
 
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
 
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
 
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.

ê Cecília Meireles !

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.


É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.


O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.


O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.


O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

ê Cecília Meireles !

Epigrama n. 2

És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.

Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

sobre saudade...

(mas agora deu que)
um passarinho voou mais alto, foi fazer um ninho numa nuvem.

o riso espontâneo  elevando os ombros, evidenciando a dentadura (rarrai).
repentes, ovos, alpercata e halls de cereja
cavalos, bois e padrim Cícero
A bravura, a esperteza e a doçura, tudo sob a sombra de um boné.

a Pedro Severo como "até logo"
um avô, uma figura, um amor.