sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

ê Machado !

 Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim,— flagelos e delícias, — desde essa coisa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, — nada menos que a quimera da felicidade, — ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

ê Camões !

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

ê Bukowski !

"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece."

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ê Quintana !

“Não te irrites, por mais que te fizerem…
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio…”

ê Chico !

Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir

Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir

Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair

Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

ê Acústicos & Valvulados !

"...Nem penso muito no que pode acontecer
Enquanto arrumo
Todas as coisas que eu sinto
O meu passado e o meu destino
E espero que o fim da tarde venha com você."

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

ê Pessoa !

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

ê Pedro Bandeira !

Neste mundo existem quatro bilhões de pessoas, quer dizer, existo eu e mais três bilhões, novecentos e noventa e nove milhões, novecentos e noventa e nove mil e novecentos e noventa e nove pessoas. Se eu não existisse, faria alguma falta? Acho que sim. É mais fácil dizer quatro bilhões.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ê dirty streets !

Quando caminho por aqui tenho a leve impressão de que essas ruas sentem nossa falta.
Que o vento que me toca me estranha por não me reconhecer sem tua blusa.
Que quem me vê, sabe que há uma ausência. Que vê só a metade porque o resto se perdeu à sua procura.
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domingo, 2 de janeiro de 2011

ê Mariano Marovatto !

vamos me esqueça pelo menos hoje. vá jogar bilhar, vá se jogar no mar. qualquer coisa, meu bem, qualquer coisa mas por favor me esqueça.

ê Oswald !

Sente-se diante da vitrola
E esqueça-se das vicissitudes da vida
Na dura labuta de todos os dias
Não deve ninguém que se preze
Descuidar dos prazeres da alma.

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ê pretty woman!

Reveillon perdido e Uma linda mulher passando na globo..
Richard Gere, venha me salvar dessa vida prostituta de vestibulanda também!
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ê João Cabral de Melo Neto !

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

ê madrugada !


não, não está certo. vodka, kiwi e del valle.
não, não me leve a mal. só não ando bem.
é que às vezes é preciso perder um pouco de realidade.

ê Grey's !

'Eu me sinto vazia.
Mais tequila. Mais amor. Mais qualquer coisa. Mais é sempre melhor
Não, eu me sinto vazia. '

ê vazio!

Um turbilhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo em que a monotonia  permanece,
tantos sentimentos surgindo ao mesmo tempo em que desaparecem,
tanto tempo livre ao mesmo tempo em que o relógio trabalha apressado.

Todas as coisas do mundo aqui e nenhuma me pertence.

sábado, 1 de janeiro de 2011

ê Renata Fagundes !!

Ela tinha ímpeto de desaparecer, virar espuma, vento, soprar longe.
Se sentia culpada quando essa vontade tomava conta dos seus pensamentos,
sempre rodeada de sons, vozes, música, amor, superproteção que ela não pedia.
Tinha gana de desligar os telefones, o interfone, desligar-se.
Não era egoísmo puro e simples, era saudade dela.
Sentia falta de rir sozinha lendo seus livros, acender incenso tomando banho quente, andar pela casa com sua camiseta surrada, descalça, distraída, relaxada, ver seus filmes antigos tomando café forte, queria sua companhia de volta, não definitivamente (solidão nunca a seduziu), pois amava estar com os seus.
Gostava de ser acolhida, mimada, mas algumas vezes, um filme, um café, pés descalços, lhe bastava.

ê Renata Fagundes !

Eles eram indivíduos, um, único, separado, até se conhecerem.
Misturavam palavras, textos, sentimentos, sonhos, vida.
Se misturaram tão profundamente, tão uniformemente,
que era impossível distinguir, onde começava um e onde terminava o outro.